“Mais
terrível do que qualquer muro, pus grades altíssimas a demarcar o jardim do meu
ser, de modo que, vendo perfeitamente os outros, perfeitissimamente eu os
excluo e mantenho outros.” Fernando Pessoa
O fato é que vivemos numa sociedade cada vez mais pautada
pelo medo. Medo do desemprego, das manifestações, do choque, dos assaltos, das
enchentes, do trânsito, da seca, do AVC, do câncer, dos alimentos
industrializados, da hipertensão, da velhice, da solidão e, claro, também do
amor.
Sentimos, então, medo de nos relacionar com outras pessoas,
nos parecem perigosas pelos mais diversos motivos: é desconhecida, pode ser delinquente,
mora longe, pode estar doente, é idos@, pode ter mau hálito, chulé, não ter a
mesma opção sexual, ser violent@, homofóbic@, machista, estar comprometid@ ou não querer nada sério.
Acho um pecado se querer algo sério quando falamos de
relacionamentos. Acredito que o que se deva desejar seja algo divertido,
cúmplice, com certa sensualidade, respeito, boas risadas, afinidades: música,
literatura e copas deveriam ser quesitos obrigatórios em matéria de compatibilidade, fora os ideológicos, claro. Que
seja recheado de um grande desejo de se estar junto, aproveitar os momentos. Companheirismo.
E aí que tá, como pretendemos companheirismo se nem sequer
nos atrevemos a atravessar a fronteira de um terceiro encontro? Se o
medo nos faz colocar o coração atrás das grades, ao refúgio de qualquer perigo
que um romance possa nos proporcionar?
Sentimos mais coragem para realizar um rali até o Acre, do que nos
permitir sentir afeto.
Se levamos então vários ou muitos tombos sentimentais, no
passado, por melhor que esta pessoa possa nos fazer, corremos. Vai que um dia
muda de ideia, vai que me troque por outra. O medo de sofrer de amor nos faz
sofrer da falta dele. Um triste paradoxo.
Ficar sozinhos é muito mais seguro. Sabemos como lidamos com
nós mesmos, já conhecemos nossas frustrações, sabemos como não ter expectativas
de nós. Não vamos nos abandonar, não entramos em conflito com outros interesses
e, principalmente não temos medo de nós mesmos. Sabemos cuidar de nós mesmos.
Mas fiquemos atentos a esses nossos boicotes por medos. Às
vezes podemos ser nós mesmos os que nos estejamos fazendo sofrer por prevenção
extrema. Encontrar alguém por quem bateu
aquela sensação especial, que te respeite, e que te faça rir não é fácil no
momento em que as pessoas nem sequer valorizam isso. Temer se manter por
perto de alguém com essas qualidades, deveria ser crime de lesa-felicidade.
Já cantava Silvio Rodriguez "La cobardía es asunto de los hombres, no de los amantes. Los amores cobardes no llegan a amores ni a histórias"
Um comentário:
Relacionamentos serios estão cada vez mais raros ultimamente.
Parabéns. Conteudo otimo para uma reflexão sobre o assunto
http://fecundacao.com/
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