sábado, julho 06, 2013

O amor nos tempos do medo



“Mais terrível do que qualquer muro, pus grades altíssimas a demarcar o jardim do meu ser, de modo que, vendo perfeitamente os outros, perfeitissimamente eu os excluo e mantenho outros.” Fernando Pessoa

O fato é que vivemos numa sociedade cada vez mais pautada pelo medo. Medo do desemprego, das manifestações, do choque, dos assaltos, das enchentes, do trânsito, da seca, do AVC, do câncer, dos alimentos industrializados, da hipertensão, da velhice, da solidão e, claro, também do amor.

Sentimos, então, medo de nos relacionar com outras pessoas, nos parecem perigosas pelos mais diversos motivos: é desconhecida, pode ser delinquente, mora longe, pode estar doente, é idos@, pode ter mau hálito, chulé, não ter a mesma opção sexual, ser violent@, homofóbic@, machista, estar comprometid@ ou não querer nada sério.

Acho um pecado se querer algo sério quando falamos de relacionamentos. Acredito que o que se deva desejar seja algo divertido, cúmplice, com certa sensualidade, respeito, boas risadas, afinidades: música, literatura e copas deveriam ser quesitos obrigatórios em matéria de compatibilidade, fora os ideológicos, claro. Que seja recheado de um grande desejo de se estar junto, aproveitar os momentos. Companheirismo.

E aí que tá, como pretendemos companheirismo se nem sequer nos atrevemos a atravessar a fronteira de um terceiro encontro? Se o medo nos faz colocar o coração atrás das grades, ao refúgio de qualquer perigo que um romance possa nos proporcionar?  Sentimos mais coragem para realizar um rali até o Acre, do que nos permitir sentir afeto.

Se levamos então vários ou muitos tombos sentimentais, no passado, por melhor que esta pessoa possa nos fazer, corremos. Vai que um dia muda de ideia, vai que me troque por outra. O medo de sofrer de amor nos faz sofrer da falta dele. Um triste paradoxo.
Ficar sozinhos é muito mais seguro. Sabemos como lidamos com nós mesmos, já conhecemos nossas frustrações, sabemos como não ter expectativas de nós. Não vamos nos abandonar, não entramos em conflito com outros interesses e, principalmente não temos medo de nós mesmos. Sabemos cuidar de nós mesmos.

Mas fiquemos atentos a esses nossos boicotes por medos. Às vezes podemos ser nós mesmos os que nos estejamos fazendo sofrer por prevenção extrema.  Encontrar alguém por quem bateu aquela sensação especial, que te respeite, e que te faça rir não é fácil no momento em que as pessoas nem sequer valorizam isso. Temer se manter por perto de alguém com essas qualidades, deveria ser crime de lesa-felicidade. 

Já cantava Silvio Rodriguez "La cobardía es asunto de los hombres, no de los amantes. Los amores cobardes no llegan a amores ni a histórias"

Um comentário:

Carlos disse...

Relacionamentos serios estão cada vez mais raros ultimamente.

Parabéns. Conteudo otimo para uma reflexão sobre o assunto

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