sexta-feira, junho 19, 2009

Pelo direito às Casas de Parto

Regulamentadas em 1999 pelo Ministério da Saúde, as Casas de Parto, ou Centros de Parto Normal, são "unidades de saúde que prestam atendimento humanizado e de qualidade exclusivamente ao parto normal sem distócias". Ou seja, são lugares onde, pelo SUS, a mulher com gravidez de baixo risco tem suas vontades respeitadas ao parir.

Quem já se sentiu violentada por um parto normal cheio de intervenções ou por um corte de cesariana desnecessárea entende o que quero dizer com vontades respeitadas. É ser compreendida e amparada como indivíduo - que não funciona como ditam os livros -, é poder encontrar a posição ideal para suportar uma contração, comer ou beber se desejar, ter a companhia que escolher, ouvir música, não ouvir conversas paralelas, não usar roupas, ou se agasalhar como quiser. É ser protagonista do grande evento fisiológico para qual seu corpo se preparou por meses. É fazer seu parto, em vez de esperar que alguém o faça, e mesmo assim ter assistência.

Na maioria das Casas de Parto a assistência é dada por enfermeiras obstetrizes, também chamadas de parteiras profissionais. Elas estão preparadas para lidar com emergências, o que inclui encaminhar para um médico em tempo hábil quando necessário. E - mais importante que na exceção - na regra, estão prontas para ouvir, acalmar, sustentar. "Pra parir a gente precisa de segurança, tranquilidade e carinho e isso tive de uma obstetriz", me disse Mariana Lettis, amiga querida que pariu o Esteban na Casa de Parto de Sapopemba depois de 17 horas de trabalho de parto. Dificilmente um médico tradicional esperaria tanto tempo para um nascimento. O mais provável é que, com desculpa de falta de dilatação, bebê alto, bacia pequena ou cordão enrolado no pescoço saberíamos de outra desnecesárea.

Mas apesar de fantásticas, as Casas de Parto são bastante perseguidas por aqueles que consideram o parto um ato médico. Essa semana, a única Casa do Rio de Janeiro foi arbitrariamente fechada e só reaberta depois de protestos. Telefonei para a Casa de Parto de Sapopemba, a única com atividade constante em São Paulo, e a obstetriz me informou tristemente que foi proibida de dar entrevistas. Proibida? Sim! Proibida de dar entrevistas, de relizar encontros com grupos de gestantes ou promover qualquer atividade que divulgue o trabalho realizado na Casa.

Reproduzo aqui a provocação da parteira profissional Ana Cristina Duarte, por quem tive a sorte de ser assistida no parto: "A verdade seja dita, se as mulheres saudáveis começarem a ter seus bebês com enfermeiras obstetrizes, em clínicas simples e casas de parto, a exemplo do que acontece na maioria dos países de primeiro mundo, o que será dessa gigantesca indústria das cesarianas, dos hospitais cinco estrelas, dos cirurgiões e seus consultórios? Como sustentar esse setor lucrativo da economia?"

Se você também repudia o que está acontecendo nas Casas de Parto, assine o abaixo assinado promovido pela ONG Parto do Princípio e esteja atento.

* Bianca Santana para o Blog Pé de Manga

quinta-feira, junho 11, 2009

E a minha vida mudou...

relato de varios nascimentos

Me propôs fazer este post para registrar a mudança mais radical e adorável da minha vida. A passagem do solteirismo faceiro pra maternidade faceira!

Sobre como transcorreu a gravidez e os porquês das coisas já escrevi num outro post. Tal vez seja bom comentar que desde os 24 foi que decidi que queria ser mãe e que não esperaria o príncipe azul chegar para isso, com o tempo fui definindo que preferiria que fosse antes do 35 para não correr riscos desnecessários e poder escolher com tranquilidade se ia querer outro filho. Mas vamos lá.

Chegadas as 39 semanas, a minha torcida era por chegar e/ou ultrapassar a DPP (data prevista pro parto) que era 25 de janeiro, porque a Mariel iria me acompanhar no parto e ate essa ata estava trabalhando num evento que a limitava no tempo que poderia permanecer comigo. Já estava de licencia maternidade porque precisava ainda terminar de arrumar o apertamento (escrevi bem, é apertado mesmo, aqui...rsrs mas sabem que estou achando ótimo? Tudo fica perto para atender o baby.) pra grande chegada do Luis Esteban. Era uma quarta-feira, dia 21 de janeiro, quando fui almoçar com a Div's e, ao ir ao xixi-room às 14h30, descobri que tinha começado a perder o famoso tampão. Mas fiquei quieta e também tentei me acalmar, não queria dizer nada ainda, e não quis alarmar ninguém. Decidi continuar meu dia como tinha planejado. Depois de tudo poderia se passar uma semana ainda.

Fui comprar jujubas para as lembrancinhas que faltavam, voltei para casa, continuei com as arrumações, fui para casa da Carine e depois, para casa da Ana, e para a reunião do núcleo do Almeida (boteco de algumas quartas-feiras, com amigos, que continuei acompanhando tomando suquinho de laranja e comendo muito peixe assado!). Cheguei em casa mais da meia noite. Tudo tranquilo e continuava a secreção.

Fui deitar e, como sempre o Esteban se mexia pracas (sempre até às 3 da matina), então resolvi vir para o micro e combinei com Irineu pelo googletalk, de ir pro lançamento do livro dele no dia seguinte, quinta-feira às 20hs, já que tinha se passado mais um dia e nada de TP, me despedi e fui “dormir”. Lá pelas 3hs, na trigésima vez que fui fazer xixí, o tal de tampão saiu inteiro na minha mão... Bom, não siginifica nada, pensei e voltei pra cama.

Às 3h20 uma dor forte pracas me assusta quando tentava dormir. Resolvi ligar pra Mariel e deixar ela de sobre aviso, por sorte ainda estava acordada no serviço (na Campus Party) e me disse que poderia vir e , se for falso alarme, tudo bem. Mas melhor ficar perto. Então voltei deitar para ir descansando, sabia que devia descansar e comer para encarar o trabalho de parto, mas não tinha fome e muito menos sono. Cinco minutos depois o telefone toca e mais umas dessas dores na barriga me ataca, “Puta que o pario, meu!!!” tudo o que consegui falar, e ela “qual o numero do teu predio? Estou indo pra aí”. Nesse tempo liguei pra Casa de Parto, e a Marciana disse que era para só chegar lá quando estiver com 3 contrações, cada 10 minutos, durante uma hora, de pelo menos um minuto cada contração, (inda bem que anotei isso porque até agora não lembro direito). Cada vez que uma dor vinha, com celular na mão, olhava a hora e anotava num papel e contava, um -Puta merda! Dois, aí mi diós! E por aí seguindo, para ter noção de quanto tempo duravam. Quando a Mariel chegou, checou as anotações, esperamos mais um tempo para deixar chegar na hora, ligou para casa de Parto e disseram para ir, devagar, tranquilas, mas podem ir chegado. Ao parecer (eu já não batia bem os pinos com as dores) estavam nesse trem.
Liguei pra Frineia, minha amigona e vizinha com carro, primeira na lista dos disponíveis pra me levarem, Fri, eu disse, Luis Esteban chamando .“Ai, meu deus!” Ela disse e, em 10 minutos chegou em casa.

Lá fomos as três, no meio da madrugada pra Casa de Parto. No viaduto que ia pra zona leste tinha acontecido uma batida de carro e estava interditado pela CET. O quadro, eu de quatro na parte de trás do carro respirando nas contrações, e a Fri discutindo com o cara da CET para que abram uma franja para a gente passar . Depois de nos perder um pouquinho, chegamos 5h30, em Sapopemba, eu morria de vontades de fazer xixi, fui no intervalo das contrações e quando saí,veio junto com uma contração fortona, uma água escorrendo.

A Rose, parteira da casa, me examinou olhando com um instrumento com luz, e falou 1,30cm de dilatação e bolsa rompida, internação. Ai, ai!!! 1cm apenas!!! e eu já querendo vomitar!!! o cardiotoco deu normal, o Esteban estava com 146 batimentos por minuto, um lindo.
Lá fomos nós pro quarto, e daí para a frente pouca coisa me lembro. Para poder escrever este relato tive que voltar ao prontuario e a conversar com as meninas e parteira para reconstruir. Sei que ofereceram café da manhã, mas comi algo e vomitei, sei que fui pro chuveiro com bola, de lá pra banheira de hidro, daí pro chuveiro de novo. Me sentia frustrada de não conseguir agachar, travar pela dor, sentir tanto medo da dor. Eu que achava que dançando como dançava, fazendo Yoga e tendo a elasticidade que tenho ia ser fácil, travei, travei, e travei! Eu achava românticos os relatos de parto que tinha lido, e não tinha reparado no lance de doer pra car...

Em algum momento, lá pelas 13hs, vieram fazer o toque e constataram 4cm apenas! E disseram que precisaria de ocitocina, choraminguei mas explicaram que não podia ficar ai muito tempo com a bolsa rota e o bebé ainda estava alto (e estava mesmo!). Aceitei, mesmo assim confesso que não percebi diferença no volume de dor...rs Continuava doendo pracas! A Mariel precisava ir embora e o mundo caiu, mas ela me disse que a Fri voltava, e com código de cavaleria juntamos as cabeças e nos despedimos pensando que tudo ia sair bem.

Daí para frente sei que cochilei entre uma contração e outra e sonhava que estava numa praia de coqueiros, que estava no Fórum Social em Belém e isso tudo nos 2 minutos de sossego entre dor e outra. A Fri tinha voltado do serviço e me lembrava “respira, Yoga, respira” e eu não mandei ela pra nenhum lugar como ela esperava. Alguns amigos que passaram por lá para saber a quantas estava a coisa, ouviam meus gritos e lamentações em portunhol.

Um delírio que tive, causado pelas dores, acontecia cada vez que a assistente vinha escutar o coraçãozinho do Esteban e ele mantinha os mesmos sossegados 146 batimentos, eu ouvia a música do Tim Maia tocar em algúm lugar“Numa reláx, numa tranquila, numa boa!”

Trocando o turno das parteiras a Yukie veio para me dar um ánimo, me fazendo parar com essa cantarola de vou morrer e me abraçando muito para conseguir agachar, me fazendo massagens nas lombares, me ajudando a tentar fazer força, pedindo pra doce Tereza (assistente da casa) botar musiquinha broxante para me acalmar. Ai! Como queria a bateria do Ilú naquela hora para me dar ánimo!

Em algúm momento a Edina e o Márcio passaram por lá, Edina entrou e pude ver a cara de susto ao me ver pelada, descabelada, e desvairando... Não lembro em que momento ela foi embora.
Lá elas 18hs (segundo o prontuario) mais um toque, 7 cm!!! uma luz no fim do túnel já não sabia quantos vômitos, descabelamentos, cocós, pedidos de cesáreas meus, anestesias, tinham acontecido na jornada toda. Sentia vontade de fazer força e a Ykie falava que tinha que sair e tricotar para não fazer intervenções, mesmo assim tentou me ajudar a ficar de cócoras para o Esteban descer. Sei que me deram plasil e glicose, duas vezes.

Bom, só consegui fazer força na cama, costas encostadas, barrinhas aos lados. Lá estava eu cagando e não andando, e empurrando, e dor vinha, mas já não me abalava mais. Até que a Fri foi aprontar a máquina de fotos, a Yukie saiú da sala e veio de avental branco, mas uma parteira chegou também, a Luz se apagou e se acendeu um abajur, uma mesinha foi aproximada da cama e pensei, agora sim, né? Uma nova energia me invadiu, e lá fui eu orientada a fazer força sem comprometer a garganta. E a Fri disse “Estou vendo algo sim, Mariii!!”. Meninas, nessa hora não lembrei de espelho, de nada, só queria era parir!!!

A outa parteira fez umas “arrumações” na minha barriga (Elly me explicou depois que é manobra de Crysteller) Mas não me incomodou, nada me incomodava mais naquela hora. Senti o círculo de fogo (meu deus!! é um verdadeiro fogareú, hein!!!) e não consegui brecar uma força, que a Yukie pediu e que me custou uma laceraçãozinha, mas o Esteban saiu disparado! 20 horas em ponto! (horário do lançamento do livro do Irineu!! rsrs)


De zoião aberto e soltando uma bela cagada, veio para minha barriga. Fiquei imediatamente recuperada de todos os sustos e dores! Puxei ele pra mim e, de um cabeçazo tipo Marlon Brando no “Ultimo tango em Sapopemba” como disse Ana Cris, ele pegou no meu peito e mamamos felizes para sempre! Nasceu o Esteban, nasci como mãe, nasceram todos como tios, pais, avós... A Yukie me fez sentir o cordão pulsando enquanto ele mamava... foi muita emoção!


Nisso tudo, o Felipe, super amigão, pai de coração do Esteban, chegou durante o expulsivo mas só deixei entrar para cortar o cordão quuando parou de pulsar. Depois a Carine e o Renato que estavam esperando, e trouxeram comidinhas, puderam entrar para ver o pequeno. Quando todo mundo foi embora e o pequeno durmiu, vieram me pegar para me dar banho, aí tentei descer da cama de um pulo, e tudo obscureceu!!! Me reanimaram com soro, e me trazeram a comida. Sangrei muuito, mas me recuperei dias depois. No dia seguinte a Elly, super materna mãe do caetano, veio nos visitar logo antes de que nos deram de alta. E fez a primeira foto que tive de nós dois. As da Fri consegui pegar beeem depois já que ela é andarilha e trabalhadeira que só!!!


Quero agradecer a todos os que são responsáveis pelo Esteban, ele é a construção coletiva mais amada. Sem todo o apoio e o carinho cotidiano não seriamos tão felizes.

Quero também agradecer a Bianca que colocou no meu caminho às maternas, o GAMA, a Ana Cris, o Cacá. Pessoas que trabalham pela humanização do parto, pelo desenvolvimento dos pimpolhos, que me abriram os olhos para uma realidade que precisa ser mudada, e que são fonte de inspiração para mais uma mudança na minha vida, me aguardem!