segunda-feira, fevereiro 07, 2011

Dependências e inquisição



Cada vez fico mais irratada quando surge o que denomino de Interrogatório da Inquisição Psicológica, o típico “mas como ainda mama?”


Quando estou de bom humor, costumo responder coisas do tipo: Ainda temos muito caminho por mamar! É, somos tarados por teta! E por aí vai... Agora, quando estou cansada, de mal humor, ou o interlocutor já fez essa pergunta várias vezes no último ano, fico calada. Não por aprovação, mas porque considero desnecessário brigar com uma pessoa quando nenhuma das duas vai mudar de parecer, porque daí eu poderia magoar com respostas do tipo: mamará até quando EU decida ou ELE decida deixar de mamar, ta bom pra você?


Confesso, me violentam as inquisições! O mesmo ocorre com o quesito Cama Compartilhada. Sou mãe de produção independente com uma grande cama, onde eu e o meu bebê cabemos folgados nos dias de calor e mais juntinhos nas noites mais frias. Se ele acorda na madrugada? É só esticar o braço, dar umas palmadas e se não volta a dormir, puxar ele pro peito e em 2 min se vira de costas e voltamos a dormir sossegados, sem nenhum dos dois ter acordado por completo. Quem pratica sabe que a cama compartilahda sabe como é pratico, nẽ?


Mas infelizmente tem muita gente que enxerga que essas práticas podem acarretar sei lá quais complicações. Que gera dependência na criança, que o bebê não cresce até não largar o peito, que acorda de noite só porque mama e dorme na mesma cama. Podem existir linhas da psicologia que defendam que o bebê, assim que nasce, tenha que ser distanciado da mãe, na sua cama, no seu quarto e que deve mamar apenas por seis meses. Mas, me desculpem doutores, ou melhor, dão licença? Estou na contramãos dessas teorias que criaram aos atuais profissionais que tratam os seres humanos como mercadoria e aos políticos que não apoiam a licença maternidade de 180 dias.


Uma vez, num encontro humanista, conheci uma moça, Maria, que estava dando de mamar ao seu pequeno que tinha algo mais de dois anos. Me proximei dela exclamando, que legal! Até quando vocês irão mamar? E ela me respondeu muito segura de si: “me programei para amamentar até os três anos, mais ou menos”. Lógico que nossa relação foi de amor a primeira vista, e que o papo que se seguiu foi de uma maternagem humanista danada, e que lamento profudamente o esporádico dos encontros por causa da geografia. Quando reencontrei, o filhote dela já estava com mais de três anos e desmamado. Foi dificil? Perguntei. “Qué nada! Foi de comum acordo!” Ela disse. Pra mim, são um belo modelo.


Tenho vários amig@s que relatam que mamaram até 3, 4 e 5 anos. Tod@s tem em comum o profundo agradecimento às suas mães pela saúde de ferro que hoje gozam. Quase tod@s compartilharam cama também com seus pais e/ou irmãos. Atualmente todos adultos independentes, que moram em outras casas, cidades, estados ou países. Ninguém ficou preso ao ninho ou não cresceu. “Compartilhar a cama é compartilhar carinho, não vejo onde o amor possa fazer mal” declara uma dessas pessoas.


Minha fonte inspiradora foram os belos relatos que lí no blog Mamíferas, vocês podem escolher alguns deles fazendo click aqui. Desmames naturais, sem traumas, de deixar a alma leve e o coração contente.


Encarei o desafio de desmamar o meu pequeo no tempo que seja certo para nós dois. Depois de tudo, a gente cria os filhos pro mundo, nẽ? Eles devem se sentir seguros, fortes e amados para encará-lo, para transformá-lo, e ter sempre um porto seguro afetivo para os momentos difíceis. Eu curto meu filho mamando, e daí? Somos felizes, isso está errado? Ele tem apenas dois aninhos! Passa tão rapido! Logo mais será um homem grande... e como disse a professora dele da creche: “que continue assim para se tornar um grande homem” (será que meu filho tem algúm problema de dependência? rs).


Se ele sair à mamãe, que já com meus 16 anos saí da casa paterna para morar sozinha, e que com 22 mudei de país, visitando o meu pai, com sorte, uma vez ao ano. Ou então se acontecer como a minha mãe que não me viu crescer, e que não sei ao certo, até quanto tempo mamei, ou como foi pra ela se tornar mãe e nos educar. Se eu partir antes dele ser um adolescente? Não posso deixar momentos por viver, ninguém os viverá por mim. E faço sempre o melhor que posso pelo meu gurí.


Por último, se os meus peitos pudessem falar para responder aos inquisidores, sem dúvida iriam parafrasear a Chico Buarque “tem só dois anos e o leite está quente/deixa o menino com a gente/ deixa o menino contente/ deixa o menino mamar, em paz!”