domingo, novembro 23, 2008

CONDICIONAMENTOS

Não é a toa que chamo este espaço de Fazer o que. Expressão que aprendi neste pais, como tantas outras que adoro, e percebi que se encaixava perfeitamente às muitas coisas com as quais não consigo lidar, inclusive da minha própria personalidade.

Assim como resolvi começar a desabafar por aqui, ou divertir vocês, ou fazê-los refletir, ou simplesmente nada, porque duvido que alguém tenha tempo de ler este troço, começo pelo motivo que mais tem batido na tecla nestes dias.

Estou gestante (grávida é um termo que imprime gravidade, se bem é uma questão séria estar numa situação destas, gravidade tem, ainda por cima, uma conotação negativa com a qual não concordo) de 29 semanas. Numa produção que não posso chamar de independente, senão democrática, coletiva, participativa com o comitê de tias e tios babosos do Luis Esteban, nome escolhido por mim, só depois de perceber uma certa aprovação geral. Pelo menos o índice de rejeição entre a galera foi bem menos ou quase nulo se comparando ao de Luis Camilo, Felipe, Raimundo Nonato e tantas outras opções que se passaram.

Mas o motivo pelo qual uma moça bonita e inteligente, alegre e um monte de elogios que tenho recebido durante estes 6 meses e meio, para meu agrado e saciedade à minha carência (sim, saciedade), estar sozinha, e não ter um modelo papai-mamãe tradicional, é porque o venemérito dono do esperma que colocou o Esteban na minha vida, simplesmente resolveu que não conseguia amar ninguém, que não era a favor do aborto, mas que eu decidia, que ele ia me ajudar com grana, a criar o meu filho (só começou a chamar de nosso quando botei o grito no céu, rs) etc. e tal. Sínteses: mandei ele à merda e topou na hora, reclamou que fui muito rude mas, mesmo assim, não apareceu mais. Bom, ligou uma vez e só serviu para trazer mais confusão à situação, e ainda insinuar que a barriga estava muito grande pelo tempo que ele calculava ou seja, fingi não ouvir, mas a indireta de que poderia não ser dele doeu como um raio na minha para nada fria, cabeçota.

Fiquei sim, indecisa um bom tempo, passei de um extremo ao outro e tentei ir pelo caminho que menos sofrimento me trouxesse. E aqui estamos, seis meses e meio de uma gestação saudável, um muleke inquieto, vigoroso, de chutes decididos, bem ritmados, que adora um batuque e um sacolejo no meu ventre quando dançamos, fica sempre chutando depois dos ensaios ou nos dias que fico muito tempo quieta. Torço para que seja um dançarino e percussionista, quem sabe, numa dessas sai um médico... rs

A distância do dono do esperma (com algumas das minhas amigas chamamos de doador, é verdade que ele entregou sem nenhuma reserva, nem retalhação e confesso, com muito prazer, mas, pela reação não acho tenha sido uma doação e sim, um acidente mesmo pra ele) me fez decidir com mais liberdade, se ia, iria por mim mesma, não podia contar com ele, e fui.

O motivo desta saga toda, é porque agora, a não muito tempo de nascer o Esteban minha duvida volta a pairar no ar. A polemica em torno a esse sujeito que me causou tanta dor e incerteza está novamente reinando e estou chegando à conclusão que se eu queria tirar ele da minha vida mesmo, deveria ter feito um aborto. Porque parece não colar, entre as pessoas próximas de mim, o fato de não querer mais nenhum tipo de relação com ele. Mas não quero ter, não pretendo ter, e espero ninguém me obrigar a isso.

Reparem que nunca chamei ele de pai. Acho esse um termo que nada tem a ver com uma questão biológica, um espermatozóide que fecunda um óvulo não transforma ninguém em pai. Aí, todo mundo chega para falar, mas ele é o pai, ele vai ter que te pagar pensão, ele vai ter que ter uma relação com teu filho, você vai ter que se dar bem com ele. E um monte de coisas que ninguém comentava na hora que eu podia decidir. Mas eu decidi sabendo que não pedir nada dele e reitero, não quero mesmo. E ainda vou fundamentar.

Uma mulher tem direito de decidir sobre seu próprio corpo, no Brasil ainda é crime um aborto, mas de ser despenalizado é a mulher que decide mesmo por isso, certo? Então por que motivo uma mulher que leva sozinha a decisão de uma gestação, não pode decidir sozinha também, pelo futuro do seu filho? Precisa de alguém que nunca se importou, só pelo fato de estar vivo, ser pai? Não abortei, então tenho que conviver com essa figura minha vida toda? Qual foi meu crime? Mas logo chega o contra-argumento, mas você não pode decidir pelo Esteban. Aí eu de novo, Luis Esteban se chama assim porque sozinha escolhi o nome, o dono do esperma não se manifestou para isso e não foi por falta de oportunidade, ele está aqui, na minha barriga porque eu decidi também. Se fosse casada, decidiríamos eu e o meu marido pelo nosso filho (claro, não tudo, né?) e ninguém questionaria, até ele completar a maioria de idade. Por que motivo, me expliquem então, não posso decidir sozinha pelo meu filho? Apenas porque o dono do esperma está vivo? Mais uma vez, cometi o crime de querer ser mãe, então minha condena é conviver com alguém que não quero por perto? Qual o problema de não querer alguém por perto?

Acho que temos condicionamentos demais nesta sociedade, condicionamentos do tipo moral católica, sem querer ofender religião nenhuma, apenas falando em culpas, falsas morais, etc. (bom, acho que posso ter ofendido, sim, sorry) e condicionamentos também de tipo biológico, o esperma é do cara, ele está vivo, ele mostrou alguma vez um falso ou vago e confusso interesse (que se fosse genuíno ele estaria pelo menos ligando para saber como vai a gestação de quem as pessoas chamam de filho dele) então ele é o pai. Discordo. Na época em que as mulheres também optam por fazer inseminação artificial, de doador anônimo (era um dos meus planos antes de conhecer meu ex-namorado, que não foi namorado, tive outros planos melhores também com um amigo que ainda quer ser pai) para concretizar seu desejo de maternidade sem ter que depender de uma relação para isso, não podemos afirmar que a atitude pai, responde a um condicionamento biológico.

Claro, não podemos negar a herança genética, terei de lidar com isso, nem tudo no Esteban puxará a mim, mas o que transforma um ser humano em pai, ou mãe é o interessee a dedicaçãopor esse ser que está crescendo, se formando, aspirando, anelando, sonhando, brincando, curtindo a vida. Esse ser que precisa ser cuidado, amado, tratado com liberdade, respeito, dedicação. Que merece bom exemplos. Não é uma tarefa fácil, mas acredito que seja super recompensável, tal vez o melhor dos meus atos válidos.

Acho que preciso esclarecer que não vou negar a verdade ao Esteban quando questionar ou perguntar, também tentarei me manter o mais neutra possível, a história fala por si só, não precisa de mais desgastes. E considero que sou uma pessoa de princípios. Não de moral, é bem diferente. Se ele quiser, iremos atrás do dono do esperma. Não vou negar. Mas não quero condicionamentos, quero ser livre, como fui até agora nas decisões, e deitar e rolar com o meu filho sem ter que dar explicações ou render informações a ninguém que não tenha se preocupado. Acho justo.

Se ele aparecer, ele será gentilmente convidado a se retirar e nos deixar em paz, se ele quiser mesmo alguma coisa com Esteban, ele terá que ralar e mostrar interesse, cuidado, amor com ele e respeito, esse ponto comigo. Mesmo assim espero que isso não aconteça.

Bom, se alguém leu e chegou até aqui também se cansou deste assunto como eu. Mas precisava desafabar e ter algum lugar onde mandar ler às pessoas que vem com essas inquietudes e questionamentos e me canso de discutir.

Não quero pensão, não quero sobrenome dele, não quero relação, ele foi um capitulo encerrado.

Luis Esteban e eu queremos o amor e carinho de todas as tias e tios, não queremos mais violência, sofrimento e confusão, queremos paz e liberdade. Fazer o que, rs.

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